sábado, 21 de fevereiro de 2015
Cama compartilhada
Aqui em casa a nossa cama virou uma tremenda
bagunça desde que nossos filhos nasceram, ou seja, há exatos 15 anos, mas o
negócio ficou punk mesmo, há quatro anos, com a chegada do segundo filho.
É impressionante como nossa cama perdeu, ao
longo dos anos, a sua função principal, que era de abrigar e aconchegar dois
corpos cansados que precisam de horas de descanso para se recuperar.
Aos poucos ela foi cedendo lugar aos filhos,
que aparecem por ali pelos mais variados motivos, sem aviso prévio, sem hora
marcada, simplesmente chegam, se aninham e ficam.
Ali, naquela cama compartilhada, já acalmamos
choros inexplicáveis, desvendamos pesadelos terríveis, espantamos o medo de
trovões, dinossauros, cobras e aranhas, já lutamos ali bravamente contra a
febre, a dor, o desespero.
Ali também, já experimentamos tantas emoções,
já enfrentamos tantos desafios, já soltamos as mais lindas gargalhadas,
trocamos os mais sinceros olhares, demos os mais longos beijos de boa noite, os
abraços mais longos e intermináveis que já vi, inventamos cumprimentos loucos,
histórias doidas e sem cabeça, falamos palavras de amor, de muito amor.
Ali, nessa mesma cama já ouvi pérolas que
encheram meu coração de amor e gratidão e que fiz questão de anotar para não
esquecer jamais:
“Mãe o
teu travesseiro tem um cheirinho tão gostoso, parece cheirinho de baunilha”;
“Mãe
eu gosto de dormir aqui na cama de vocês porque eu gosto de ficar dentro do
ninho”;
“Eu gosto de ficar aqui porque aqui é
seguro”;
“Eu não gosto de ficar sozinho na minha cama
porque eu fico na solidão”...
Ali,
naquela cama compartilhada, com certeza existem partículas de amor, proteção e
aconchego impregnadas nos lençóis, travesseiros e cobertas.
Ali, naquele ninho de amor não há lugar para
o medo, para a repreensão, para
cobranças, para a imposição do que é
certo ou errado, vamos vivendo tudo ao seu tempo com muita paciência e muito
amor. Porque chegará o dia em que essa mesma cama que agora se mostra tão
pequena e apertada, se revelará tão grande, como a saudade que sentiremos
desses dias que não voltarão mais.
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