segunda-feira, 16 de junho de 2014
As voltas que a vida dá...
Hoje ao atravessar uma rua, observei uma
senhorinha que se locomovia lentamente com a ajuda de uma bengala e ela me fez
lembrar imediatamente de minha avó, que faleceu há pouco tempo. Inúmeras
recordações vieram a minha mente e comecei a pensar e repensar muitas coisas.
Chega um dia na vida da gente que deixamos de
ser apenas filhos para nos tornarmos pais, dos nossos próprios pais. É algo
estranho, mas ao mesmo tempo tão desafiador e emocionante ver os papéis se
inverterem. Com certeza nem todos passam por isso, mas quem passa, não esquece
jamais.
Observando minha mãe e seus irmãos cuidando
de seus próprios pais, aprendi que o
amor é o elo mais forte e lindo que une as pessoas. É algo que não se compra,
não se troca e não se desfaz quando é verdadeiro.
Por anos meus avós precisaram de cuidados.
Primeiramente, foram apenas cuidados externos que qualquer pessoa poderia fazer
como: empurrar uma cadeira de rodas, trocar suas fraldas, dar comida, banho,
remédios, mas eu percebia que quando tudo isso era feito pelos próprios filhos,
a felicidade era vista em seus olhos.
Com muitas dificuldades de locomoção e
morando em um apartamento sem elevador, eles dependiam diariamente das visitas
para conversarem com alguém. Cada um que chegava não podia sair dali sem tomar
um café e sentar no sofá pra trocar algumas palavras. Quando levantávamos para
ir embora, era sempre cedo demais. A televisão então passou a ser uma
companheira que não podia ser desligada jamais, nem nas madrugadas.
O tempo foi passando e as enfermidades foram aumentando, mas o amor continuava ali,
presente o tempo todo. Talvez, poucos
puderam perceber quanto amor existia naquele pequeno apartamento, naquele
pequeno mundo que foi se desfazendo dia a dia.Um, se foi antes do outro. Foi dolorido, sofrido
e muito agoniante, mas o amor se fez presente mais uma vez.
O outro ficou, mas com o tempo e o sofrimento
veio o Alzheimer e a perda da memória, que foi gradativa, mas muito severa.
Vimos uma rosa que foi murchando a cada dia, como todos já imaginavam que
aconteceria, afinal, eles não sabiam viver sem a companhia um do outro.
Foi um tempo difícil, trabalhoso e muito
triste, mas o amor estava ali novamente, demonstrado em muitas visitas, muitas
conversas, parcerias, beijos, abraços e risadas, mesmo que da porta pra fora os
olhos se enchessem de lágrimas por vê-la tão distante e sem memória.
As dificuldades foram sendo superadas pelo
amor que existia entre eles e nada, nem ninguém, pôde apagar isso. Gratidão era a palavra que
fazia cada esforço valer a pena, mesmo que a doença tivesse roubado algo tão
precioso de minha avó e ela, muitas vezes, nem soubesse quem estava ali naquele
momento.
Ali naquele pequeno apartamento foram
contadas as mais lindas histórias, foram recebidos os mais sinceros sorrisos,
os mais apertados abraços e foram feitas as mais difíceis despedidas também.
Nessa
história, muita coisa mudou, a vida deu muitas voltas, os papéis se inverteram,
os filhos viraram pais e os pais viraram filhos, mas cada um cumpriu muito bem
o papel que lhes cabia em cada momento de suas vidas.
Mas teve algo nessa história toda que nunca
mudou, que não foi invertido, que não foi negociado, que não foi vendido, que
não foi trocado e que nunca acabou... o
amor entre eles.
Sentimento esse que é tão forte, tão sublime
e tão intenso que foi capaz de suportar a inversão de papéis, a indiferença, a
dor, a preocupação, a tristeza e a hora da partida.
Olho para essa situação e vejo o quão
maravilhoso é conseguir se doar e amar sem esperar nada em troca, mas ficar
feliz demais por receber apenas um sorriso, nem que seja um distante e tímido
sorriso.
Nossa amiga que lindo...chorei e lembrei do me avô que tb já partiu, de como tuas palavras foram verdadeiras e de como ainda mesmo depois da triste partida ainda ficou bem aqui a saudade e o AMOR!!!!!
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